'Que dor insuportável', diz mãe de entregador que teve o corpo carbonizado


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A dor por uma perda inesperada ainda está presente em Maria Difran Oliveira. Ela é mãe do entregador de lanches Lincoln Santos Santana, de 22 anos, que foi encontrado morto e carbonizado por garis em um lixão, na tarde de terça-feira (25), no bairro de São Marcos.

O jovem desapareceu na última segunda-feira (24), quando saiu para realizar uma entrega em Colinas de Pituaçu e não voltou mais.

"Que dor insuportável. Que dor miserável. Que crueldade fizeram com nosso menino de ouro", repetia a mãe do rapaz.

Na companhia de amigos e familiares, ela participou de um buzinaço em protesto pela morte de Linho, como era carinhosamente chamado, nesta sexta (28). O grupo usava camisas com a foto do jovem estampada, com a frase “sonhar vicia, parar de sonhar e agir é aonde está sabedoria”. Os dizeres são de uma tatuagem que Linho tinha na perna.

A carreata foi marcada por muito choro e comoção no bairro de Castelo Branco, onde o rapaz morava com a família. Na homenagem, a mãe contou que estava preocupada com o filho desde sua penúltima entrega nas ruas e disse que chegou a entrar em contato com o filho por aplicativo de mensagem, sem sucesso.

"Eles chegaram a falar comigo e com a tia dele, mas por mensagem escrita. Eu desconfiei, porque meu filho só falava comigo por áudio ou ligação. Eu disse: 'meu filho, fale comigo, quero ouvir a sua voz', mas a pessoa se recusava. Dizia que estava numa festa. Logo depois, me bloquearam", lembrou Maria.

Segundo ela, Lincoln trabalhava como motorista por aplicativo durante o dia e fazia entregas no período da noite para complementar a renda. O desejo dele era juntar dinheiro para comprar uma casa para a filha de dois anos.

"Ele compartilhava as corridas comigo. Eu acompanhava todas as viagens, do início ao fim. Ele não saía para lugar nenhum sem avisar. Não bebia, não se envolvia em nada. Estava trabalhando para juntar dinheiro", lamentou.
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O CORREIO acompanhou a homenagem e conversou com amigos e familiares do rapaz, que a todo momento repetiam que ele era uma pessoa muito querida no bairro e sem nenhum tipo de envolvimento com o tráfico de drogas.

Durante as conversas entre as pessoas que conheciam Linho, o choro e a emoção eram comuns ao relembrar momentos felizes ao lado do rapaz. Na homenagem, elas também cantaram a música Vai Na Paz, do funkeiro Kevin o Chris. "Vai na paz, irmão, fica com Deus. Eu sei que um dia eu vou te encontrar", dizia o trecho da canção, tocada do início ao fim do protesto em carros de som com a mala aberta.
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Um dos presentes no local era Sérgio Luís Sousa, amigo de Lincoln. “A lembrança que fica é de um menino obediente, muito amado por todos, não só pela família. Ele não podia ver ninguém em dificuldade que queria ajudar. Uma pessoa feliz. Era nosso irmão, não se queixava da vida para nada. Pode notar pelo tanto de gente que se mobilizou hoje. Se ele fosse uma má pessoa, nós não estaríamos aqui", disse ele, que mora no mesmo bairro do rapaz.

Suspeita

A família de Linho tem duas suspeitas sobre o crime. Segundo a mãe do rapaz, é possível que ele tenha sido sequestrado e morto por ter testemunhado alguma ação criminosa.

Uma outra possibilidade é que ele tenha sido vítima de uma emboscada. A família diz que uma hamburgueria e pizzaria para a qual o jovem prestava serviços recebeu um pedido de uma mulher que encomendou 10 pizzas que deveriam jser entregues no bairro de Colinas de Pituaçu. No entanto, o pedido foi feito de forma inusitada: a cliente solicitou que a entrega fosse feita por Lincoln.

Mesmo contestando o pedido e informando que no momento haviam outros quatro funcionários que poderiam realizar a entrega, a cliente avisou que preferia aguardar Lincoln retornar para que o pedido dela fosse entregue.

"É uma das suspeitas. Estamos esperando as investigações avançarem. Não queremos fazer suposições infundadas. Ele sempre dizia: 'somos uma família, somos unidos e ninguém larga a mão de ninguém'. Agora eu não posso mais segurar a mão do meu filho", lamentou a mãe.

O Departamento se Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga a morte do rapaz e já solicitou à hamburgueria o cadastro da cliente que realizou o último pedido feito pelo jovem.

O sepultamento da vítima ocorreu às 16h desta sexta, no Cemitério de Candeias. Cinco ônibus com amigos e familiares seguiram até o local.

Fonte: Correio 24 Horas
* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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